Leis sobre a educação da sexualidades

 

 

 

Lei n.º 60/2009 de 6 de Agosto

 

Estabelece o regime de aplicação da educação sexual em meio escolar

A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da

 

Constituição, o seguinte: Artigo 1.º

Objecto e âmbito

1 — A presente lei estabelece a aplicação da educação sexual nos estabelecimentos do

ensino básico e do ensino secundário.

2 — A presente lei aplica-se a todos os estabelecimentos da rede pública, bem como aos

estabelecimentos da rede privada e cooperativa com contrato de associação, de todo o

território nacional.

 

Artigo 2.º

Finalidades

Constituem finalidades da educação sexual:

a) A valorização da sexualidade e afectividade entre as pessoas no desenvolvimento

individual, respeitando o pluralismo das concepções existentes na sociedade portuguesa;

b) O desenvolvimento de competências nos jovens que permitam escolhas informadas e

seguras no campo da sexualidade;

c) A melhoria dos relacionamentos afectivo-sexuais dos jovens;

d) A redução de consequências negativas dos comportamentos sexuais de risco, tais

como a gravidez não desejada e as infecções sexualmente transmissíveis;

e) A capacidade de protecção face a todas as formas de exploração e de abuso sexuais;

f) O respeito pela diferença entre as pessoas e pelas diferentes orientações sexuais;

g) A valorização de uma sexualidade responsável e informada;

h) A promoção da igualdade entre os sexos;

i) O reconhecimento da importância de participação no processo educativo de

encarregados de educação, alunos, professores e técnicos de saúde;

j) A compreensão científica do funcionamento dos mecanismos biológicos reprodutivos;

l) A eliminação de comportamentos baseados na discriminação sexual ou na violência

em função do sexo ou orientação sexual.

 

Artigo 3.º

Modalidades

1 — No ensino básico, a educação sexual integra-se no âmbito da educação para a

saúde, nas áreas curriculares não disciplinares, nos termos a regulamentar pelo

Governo.

2 — No ensino secundário, a educação sexual integra-se no âmbito da educação para a

saúde, nas áreas curriculares disciplinares e não disciplinares, nos termos a

regulamentar pelo Governo.

3 — No ensino profissional, a educação sexual integra-se no âmbito da educação para a

saúde, nos termos a regulamentar pelo Governo.

4 — O disposto nos números anteriores não prejudica a transversalidade da educação

sexual nas restantes disciplinas dos curricula dos diversos anos.

 

Artigo 4.º

Conteúdos curriculares Compete ao Governo definir as orientações curriculares adequadas para os diferentes ciclos de ensino.

 

 

Artigo 5.º

Carga horária

A carga horária dedicada à educação sexual deve ser adaptada a cada nível de ensino e a

cada turma, não devendo ser inferior a seis horas para o 1.º e 2.º ciclos do ensino básico,

nem inferior a doze horas para o 3.º ciclo do ensino básico e secundário, distribuídas de

forma equilibrada pelos diversos períodos do ano lectivo.

 

Artigo 6.º

Projecto educativo de escola

A educação sexual é objecto de inclusão obrigatória nos projectos educativos dos

agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas, nos moldes definidos pelo respectivo

conselho geral, ouvidas as associações de estudantes, as associações de pais e os

professores.

 

Artigo 7.º

Projecto de educação sexual na turma

1 — O director de turma, o professor responsável pela educação para a saúde e

educação sexual, bem como todos os demais professores da turma envolvidos na

educação sexual no âmbito da transversalidade, devem elaborar, no início do ano

escolar, o projecto de educação sexual da turma.

2 — Do projecto referido no número anterior, devem constar os conteúdos e temas que,

em concreto, serão abordados, as iniciativas e visitas a realizar, as entidades, técnicos e

especialistas externos à escola, a convidar.

 

Artigo 8.º

Pessoal docente

1 — Cada agrupamento de escolas e escola não agrupada deve designar um professor-

coordenador da educação para a saúde e educação sexual.

2 — Cada agrupamento de escolas e escola não agrupada deverá ter uma equipa

interdisciplinar de educação para a saúde e educação sexual, com uma dimensão

adequada ao número de turmas existentes, coordenada pelo professor-coordenador.

3 — Compete a esta equipa:

a) Gerir o gabinete de informação e apoio ao aluno;

b) Assegurar a aplicação dos conteúdos curriculares;

c) Promover o envolvimento da comunidade educativa;

d) Organizar iniciativas de complemento curricular que julgar adequadas.

4 — Aos professores-coordenadores de educação para a saúde e educação sexual, aos

professores responsáveis em cada turma pela educação para a saúde e educação sexual e

aos professores que integrem as equipas interdisciplinares de educação para a saúde e

educação sexual, é garantida, pelo Ministério da Educação, a formação necessária ao

exercício dessas funções.

5 — Cada turma tem um professor responsável pela educação para a saúde e educação

sexual.

6 — As habilitações necessárias, bem como as condições para o exercício das funções

definidas no presente artigo, devem ser fixadas por despacho do membro do Governo

responsável pela área da educação.

 

Artigo 9.º

Parcerias

1 — Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a educação para a saúde e a educação

sexual deve ter o acompanhamento dos profissionais de saúde das unidades de saúde e

da respectiva comunidade local.

2 — O Ministério da Saúde assegura as condições de cooperação das unidades de saúde

com os agrupamentos de escolas ou escolas não agrupadas.

3 — O Ministério da Educação e os agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas

podem ainda estabelecer protocolos de parceria com organizações não governamentais,

devidamente reconhecidas e especializadas na área, para desenvolvimento de projectos

específicos, em moldes a regulamentar pelo Governo.

 

 

 

 

Artigo 10.º

Gabinetes de informação e apoio

1 — Os agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas dos 2.º e 3.º ciclos do ensino

básico e do ensino secundário devem disponibilizar aos alunos um gabinete de

informação e apoio no âmbito da educação para a saúde e educação sexual.

2 — O atendimento e funcionamento do respectivo gabinete de informação e apoio são

assegurados por profissionais com formação nas áreas da educação para a saúde e

educação sexual.

3 — O gabinete de informação e apoio articula a sua actividade com as respectivas

unidades de saúde da comunidade local ou outros organismos do Estado, nomeadamente

o Instituto Português da Juventude.

4 — O gabinete de informação e apoio funciona obrigatoriamente pelo menos uma

manhã e uma tarde por semana.

5 — O gabinete de informação e apoio deve garantir um espaço na Internet com

informação que assegure, prontamente, resposta às questões colocadas pelos alunos.

6 — As escolas disponibilizam um espaço condigno para funcionamento do gabinete,

organizado com a participação dos alunos, que garanta a confidencialidade aos seus

utilizadores.

7 — Os gabinetes de informação e apoio devem estar integrados nos projectos

educativos dos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas, envolvendo

especialmente os alunos na definição dos seus objectivos.

8 — O gabinete de informação e apoio, em articulação com as unidades de saúde,

assegura aos alunos o acesso aos meios contraceptivos adequados.

 

 

 

Artigo 11.º

Participação da comunidade escolar

1 — Os encarregados de educação, os estudantes e as respectivas estruturas

representativas devem ter um papel activo na prossecução e concretização das

finalidades da presente lei.

2 — Os encarregados de educação e respectivas estruturas representativas são

informados de todas as actividades curriculares e não curriculares desenvolvidas no

âmbito da educação sexual.

3 — Sem prejuízo das finalidades da educação sexual, as respectivas comunidades

escolares, em especial os conselhos pedagógicos, podem desenvolver todas as acções de

complemento curricular que considerem adequadas para uma melhor formação na área

da educação sexual.